Essa é uma homenagem ao Peregrino e Viajante Vírgilio
A foto eu tirei. Mãe e filha(a Myrna) vivem no alto de uma montanha, Marampata (1452m) no Peru. Uma vida bem simples e sofrida, mas com certeza tem suas alegrias.
Obs: Quem um dia for fazer a trilha para Choquiquerao, não esqueçam de levar roupas ou brinquedos para essa dupla. A mãe é tímida, mas com coração grande igual da filha, que é o oposta da mãe, super curiosa.
Uma coisa que durante anos continuo aprendendo, e confirmei durante o Caminho de Santiago, é que um homem só precisa daquilo que pode carregar. Lendo o livro do Sebastião Salgado, também li uma experiência sensacional, são palavras de um cara que já viveu muitas aqui em nosso Planeta e tem muito que nos ensinar, segue um trecho:
"Em 2011,"Genesis" me levou para perto do círculo polar, junto ao povo nenetse, a maior etnia da Sibéria, nômades criadores de renas. O Frio era insuportável, entre -30°C e -40°C...
Os nenetses vivem num clima terrivelmente rigoroso, com o mínimo necessário...
Ao fim do dia, depois de percorrer quilômetros em trenó, um nenetse constrói seu tchum, uma tenda feita de pele de renas. Tudo o que ele possui cabe ali dentro. No dia seguinte, ele a desmonta rapidamente e todos os seus bens voltam para os trenós. Precisam ser leves para não cansar as renas. Esses homens do frio vivem com pouco, mesmo assim, sua vida é tão intensa, tão plena e tão forte em emoções quanto a nossa. Talvez até mais, pois tanto multiplicamos os bens materiais para tentar nos proteger que acabamos nos esquecendo de viver. Não olhamos mais para a natureza e para os outros, nos separamos de nossa comunidade. Isso me preocupa muito. Fico apreensivo de ver que quase todas as tecnologias, no fim das contas, acabam nos isolando. Á medida que as coisas materiais evoluem, podemos cada vez mais fazer coisas sozinhos em nosso canto, A história da humanidade, porém, é a história de nossa comunidade. Nós, pelo contrário, nos dispersamos, nos individualizamos.
Não se trata de voltar para trás. Ninguém deseja abandonar o conforto moderno. Isso nunca aconteceu na história. Mas não devemos perder nossas referências, nosso instinto, nossa espiritualidade. Foi nosso senso de comunidade e nossa espiritualidade que nos fizeram sobreviver até agora...
Esses povos, repito, têm um conhecimento enorme da natureza. Os índios são capazes de pressentir uma onça, de ver a chegada de uma cobra, enquanto eu não sinto nada, não vejo nada. eles são capazes de subir em árvores de qualquer tamanho, de caminhar em qualquer lugar com os pés descalços, enquanto eu sofro com minhas ultrassofisticadas botas de caminhada."
Sebastião Salgado, livro Da minha terra à Terra, Páginas 131-135
Hoje, lendo mais uma vez o livro do Rubem Alves, sobre o tempo e a eternaidade, parei na crônica Eu não viajei e abaixo compartilho alguns trechos para meus amigos e companheiros de viagens, a conclusão, cada um tire a sua:
"A cor da minha pele está como sempre foi. Não me bronzeei numa praia. Não fui de avião nem ao Caribe, nem ao Nordeste, nem ao Sul. Podia ter ido. Preferi ficar. Fiquei sem sentir inveja dos prazeres que os que tinha ido estariam tendo. Muita gente viaja, não porque queira, mas porque vê todos os outros indo e não suporta ficar , imaginando que os outros estão bebendo agua de coco, comendo camarão e curtindo adoidado." ...
"Eu não viajo para conhecer. Eu viajo para ter prazer. Acho que vou conhecer mais sobre Michelangelo ficando em casa e lendo livros sobre ele do que indo a Firenze. Mas indo a Firenze a minha imaginação voa e , ao andar pelas ruas, penso que ele tambem andou por elas. É esta sensação mágica de... de que mesmo ? "...
"Há pessoas que viajam o mundo inteiro, de avião, sem nunca desembarcar do medíocre e banal vilarejo que é sua alma. Enxergam tudo e não vêem nada. Voltam do mesmo tamanho, do mesmo jeito, sem que tenham ficado mais belas, sem que haja um novo brilho no seu olhar, semelhante a um arco íris. Porque voltam vazias por dentro, tratam de trazer malas cheias.
"Pra viajar bem, não bastam passaporte, dinheiro e passagem. Porque, como disse Bernardo Soares,"nunca desembarcamos de nós" Pensam que estão vendo o mundo ? Enganam-se. "O que vemos não é o que vemos, mas o que somos" Cada foto, cada relato de viagem é uma revelação dos nossos cenários interiores"
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Vou postar um texto que encontrei na internet, uma pena que não achei o autor. Me fez lembrar de outra, ah de um peregrino, o Sr Virgilio. Aproveitei e fiz uma pequena alteração no texto, quem sabe a história não se repita em um futuro próximo. A essência continua a mesma.
Um jovem advogado foi indicado para inventariar os pertences de um senhor recém falecido. Segundo o relatório do seguro social, o idoso não tinha herdeiros ou parentes vivos. Suas posses eram muito simples. O apartamento alugado, um carro velho, móveis baratos e roupas puídas. “Como alguém passa toda a vida e termina só com isso?”, pensou o advogado. Anotou todos os dados e ia deixando a residência quando notou um porta-retratos sobre um criado mudo.
Na foto estava o velho morto. Caminhava sozinho entre plantações de uva e trigo, ao fundo um lindo vale e outras pessoas caminhando, com certeza com o mesmo destino. À caneta escrito bem de leve no canto superior da imagem lia-se “Caminho de Santiago”. Surpreso, o advogado abriu a gaveta do criado e encontrou um álbum repleto de fotografias. Lá estava o senhor, em diversos momentos da vida, em fotos em todo canto do mundo.
Em um tango na Argentina, na frente do Muro de Berlim, em um tuk tuk no Vietnã, sobre um camelo com as pirâmides ao fundo, tomando vinho em frente ao Coliseu, entre muitas outras. Na última página do álbum um mapa, quase todos os países do planeta marcados com um asterisco vermelho, indicando por onde o velho tinha passado. Escrito à mão no meio do Oceano Pacífico uma pequena poesia:
Não construí nada que me possam roubar.
Não há nada que eu possa perder.
Nada que eu possa tocar,
Nada que se possa vender.
Eu que decidi viajar,
Eu que escolhi conhecer,
Nada tenho a deixar
Porque aprendi a viver.