terça-feira, 8 de abril de 2014

Um homem só precisa daquilo que pode carregar



A foto eu tirei. Mãe e filha(a Myrna) vivem no alto de uma montanha, Marampata (1452m) no Peru. Uma vida bem simples e sofrida, mas com certeza tem suas alegrias.

Obs: Quem um dia for fazer a trilha para Choquiquerao, não esqueçam de levar roupas ou brinquedos para essa dupla. A mãe é tímida, mas com coração grande igual da filha, que é o oposta da mãe, super curiosa.


Uma coisa que durante anos continuo aprendendo, e confirmei durante o Caminho de Santiago, é que um homem só precisa daquilo que pode carregar. Lendo o livro do Sebastião Salgado, também li uma experiência sensacional, são palavras de um cara que já viveu muitas aqui em nosso Planeta e tem muito que nos ensinar, segue um trecho:

"Em 2011,"Genesis" me levou para perto do círculo polar, junto ao povo nenetse, a maior etnia da Sibéria, nômades criadores de renas. O Frio era insuportável, entre -30°C e -40°C...

Os nenetses vivem num clima terrivelmente rigoroso, com o mínimo necessário...

Ao fim do dia, depois de percorrer quilômetros em trenó, um nenetse constrói seu tchum, uma tenda feita de pele de renas. Tudo o que ele possui cabe ali dentro. No dia seguinte, ele a desmonta rapidamente e todos os seus bens voltam para os trenós. Precisam ser leves para não cansar as renas. Esses homens do frio vivem com pouco, mesmo assim, sua vida é tão intensa, tão plena e tão forte em emoções quanto a nossa. Talvez até mais, pois tanto multiplicamos os bens materiais para tentar nos proteger que acabamos nos esquecendo de viver. Não olhamos mais para a natureza e para os outros, nos separamos de nossa comunidade. Isso me preocupa muito. Fico apreensivo de ver que quase todas as tecnologias, no fim das contas, acabam nos isolando. Á medida que as coisas materiais evoluem, podemos cada vez mais fazer coisas sozinhos em nosso canto, A história da humanidade, porém, é a história de nossa comunidade. Nós, pelo contrário, nos dispersamos, nos individualizamos.

Não se trata de voltar para trás. Ninguém deseja abandonar o conforto moderno. Isso nunca aconteceu na história. Mas não devemos perder nossas referências, nosso instinto, nossa espiritualidade. Foi nosso senso de comunidade e nossa espiritualidade que nos fizeram sobreviver até agora...

Esses povos, repito, têm um conhecimento enorme da natureza. Os índios são capazes de pressentir uma onça, de ver a chegada de uma cobra, enquanto eu não sinto nada, não vejo nada. eles são capazes de subir em árvores de qualquer tamanho, de caminhar em qualquer lugar com os pés descalços, enquanto eu sofro com minhas ultrassofisticadas botas de caminhada."

Sebastião Salgado, livro Da minha terra à Terra, Páginas 131-135

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